ELISEU E A ESCOLA DOS PROFETAS
Texto Áureo: II Tm. 2.1,2
– Leitura Bíblica: II Rs. 6.1-7
Prof.
José Roberto A. Barbosa
INTRODUÇÃO
O ensino sempre teve papel primordial na cultura judaico-cristã,
a palavra de Deus sempre ocupou lugar primordial na instrução, desde a
infância. Por isso, na aula de hoje, trataremos a respeito desse importante
ministério eclesiástico. Mostraremos, a princípio, a relevância da Escola dos
Profetas nos tempos de Eliseu. Em seguida, apontaremos os fundamentos bíblicos
para o ensino da igreja. Ao final, destacaremos a necessidade do ensino
sistematizado da Bíblia na Igreja local.
1. A ESCOLA DOS PROFETAS
A escola dos profetas, ao que tudo indica, teria sido o primeiro
seminário teológico dos tempos bíblicos. Essa escola teria sido organizada por
Samuel, que acumulou o ministério de profeta, sacerdote e Juiz (I Sm. 10.5;
19.20). Elias e Eliseu foram os responsáveis pela consolidação da escola dos
profetas, a contribuição deles fez com que essa escola funcionasse como resistência
à apostasia que havia se estabelecido no reino do norte (II Rs. 2.3; 4.38;
6.1). A escola dos profetas estava fundamentada no ensinamento bíblico, por
isso, as instruções eram tanto morais quanto espirituais. Não era uma escola
apenas para dotar os alunos com conhecimento, mas, sobretudo, para que esses
tivessem uma profunda experiência com Deus. Os profetas não aprendiam apenas
conteúdo bíblico, eles também eram inseridos no sobrenatural, nos milagres de
Deus. A escola dos profetas foi estabelecida em Ramá, e provavelmente, em Gibeá
(I Sm. 19.20; 10.5,10). Centros de estudos também estavam espalhados em
Gilgal, Betel e Jericó (II Rs. 4.38; 2.3,5,7,15; 4.1; 9.1). Cerca de cem
estudantes faziam parte da escola dos profetas comandada por Eliseu em Gilgal (II
Rs. 4.38,42,43). Quando Elias e Eliseu foram ao rio Jordão encontrava-se com
eles cinquenta estudantes da escola dos profetas (II Rs. 2.7,16,17). O estilo
de vida deles era em comunidade, em uma casa comum, na companhia dos profetas
(II Rs. 6.1). Alguns deles eram casados e tinham filhos (II Rs. 4.1) e
acompanhavam os homens de Deus, por isso eram chamados de filhos dos profetas.
A escola dos profetas dava também aos estudantes uma formação musical, a fim de
que pudessem oferecer ao Senhor música de qualidade para a adoração a Deus (I
Sm. 10.5).
2. FUNDAMENTOS CRISTÃOS PARA O ENSINO NA IGREJA
O ensino bíblico-teológico sempre teve relevância na igreja
cristã, não podemos esquecer que a Grande Comissão destacava a necessidade de
fazer discípulos, e de ensiná-los a Palavra de Deus (Mt. 28.20). Os próprios
mestres, aqueles que ensinam na igreja, são dádivas de Deus, e portanto, devem
ser considerados como ministros do Senhor (Ef. 4.11). A ausência de
ensinamentos bíblicos bem fundamentados é danosa para a igreja, já que
possibilita a entrada de falsos mestres, e a manifestação da apostasia (Hb.
6.1). Por isso Paulo orienta o jovem pastor Timóteo para que esse invista no
ensino, que escolha mestres para ensinaram e repassarem a mensagem às novas
gerações (II Tm. 2.2). Tais pessoas devem se esmerar no ministério do ensino,
ou seja, a ele se dedicarem (Rm. 12.7). Elas devem ensinar não apenas com
palavras, mas também com o exemplo (At. 12.25). Paulo é um modelo de mestre na
Palavra, um homem que não se esquivou de ensinar os decretos de Deus (At.
20.20). Não por ocaso conclamava seus ouvintes e leitores a serem seus
imitadores (I Co. 4.15; 11.1; Fp. 3.17). Mas o maior Ensinador foi o próprio
Jesus, reconhecido como Mestre da parte de Deus (Jo. 3.2). Aqueles que O ouviam
ficavam pasmos diante dos seus ensinamentos, com a autoridade com a qual falava
(Mt. 7.28,29). As pessoas se dirigiam a Ele com o título de Rabi, mestre (Mt.
26.15,49; Mc. 9.5; 11.21; Jo. 1.38,49; 4.31; 9.2; 11.8). Jesus mesmo se
reconhecia como tal (Mt. 23.8; Jo. 13.13). Seu ensino era eficaz, por isso
muitos se maravilhavam (Jo. 7.46), também dos seus feitos, associados ao ensino
(At. 1.1,2). Seus ensinamentos partiam de temas simples do cotidiano, recorria
com frequências às parábolas (Mt. 22.1); indagações (Mt. 22.46), discursos (Mt.
5-7), citações (Mt. 5.18; 22.41-45; Lc. 24.27) e símbolos (Jo. 13.4-7;
Mc. 6.11). Os temas tratados por Jesus em seus ensinamentos eram: Deus (Mt.
22.34-40); Ele mesmo (Jo. 8.42; 8.58; 16.28); o Espírito Santo (Jo. 3.5;
7.38,39; Mt. 12.27,28; 14.16,17); as Escrituras (Mt. 5.18; Mc. 2.1,2; Mt. 7.13;
Jo. 17.17); a vida cristã (Jo. 5.24; 6.35; 8.12; 14.6; 11.25; 17.17; Mc.
12.30,31); o Reino de Deus (Lc. 17.17; Mt. 6.10; 4.23); a igreja (Mt.
16.18); e a escatologia (Mt. 12.30,31; Jo. 10.28).
3. A IMPORTANCIA DO ENSINO SISTEMÁTICO DA BÍBLIA
A igreja cristã não pode fugar da responsabilidade do
ensinamento sistemático da Bíblia. Ciente da importância desse ministério,
muitas igrejas fundaram universidades e investiram maciçamente na educação.
Nesses últimos anos a igreja se distanciou dessa tarefa, e o secularismo ganhou
espaço. O ideal seria que as igrejas evangélicas tivessem suas escolas
confessionais, a fim de instruírem as crianças, desde cedo, na palavra de Deus,
sem desconsiderar a formação enciclopédica, com vistas à formação profissional.
Por menor que seja uma igreja local, ela é a principal responsável pela
instrução dos seus fiéis na palavra de Deus. Os cultos de instrução (ou
doutrina) devem ser valorizados, os pastores precisam separar tempo necessário
para a exposição da Palavra de Deus. As escolas dominicais merecem maior
atenção, atentado inclusive para seus espaços físicos. O estudo teológico,
outrora tratado com preconceito, deve ser estimulado, pois sem uma formação
ortodoxa as pessoas tenderão ao liberalismo. A esse respeito, é preciso
reconhecer que não existe apenas um liberalismo racionalista – que nega a
revelação em prol da razão, mas também o sentimentalista - que nega a revelação
em favor da emoção. O movimento pentecostal, desde o princípio, orientou sua
liderança para que obtivesse formação bíblica. Os cursos teológicos eram
poucos, tendo em vista o contexto distinto, mas havia escolas bíblicas para
obreiros e escolas dominicais. Esperava-se pelo menos que os obreiros tivessem
o conhecimento das principais doutrinas da Bíblia. Nesses últimos anos, em
virtude da descaracterização do movimento evangélico no Brasil, percebemos a
necessidade premente de obreiros com fundamentação bíblica. As escolas bíblicas
dominicais, os cultos de instrução e estudos bíblicos precisam ser
revitalizados nas igrejas locais. Caso contrário, estaremos fadando as gerações
futuras à mediocridade, a falta de fundamentos sólidos, a heterodoxia bíblica,
que cedo ou tarde os distanciaram do evangelho.
CONCLUSÃO
A criação da escola dos profetas por Samuel, e o estabelecimento
dela através de Elias e Eliseu, deve servir de motivação para investimos no
ensinamento bíblico-teológico em nossas igrejas. Para tanto, devemos não apenas
repassar conteúdos, mas, sobretudo, oportunizar momentos espirituais, nos quais
os nossos alunos possam ter uma experiência profunda com o Senhor. Uma igreja
que não investe no ensino não está cumprindo a Grande Comissão, que a de fazer
discípulos, e instruí-los na Verdade, que é o próprio Cristo.
BIBLIOGRAFIA
DILLARD, R. B. Faith in the face of apostasy:
the gospel according to Elijah and Elisha. New Jersey: P&R, 1999.
RUSSEL, D. Men of courage: a study of
Elijah and Elisha. Oxford: Christian Focus, 2011.